Christiane Toloni estrela "A Loba de Ray-Ban"
A peça teatral
A Loba de Ray-Ban - que será apresentada sábado (16), no
Teatro Rio Vermelho, às 21 horas -
é uma daquelas obras artísticas que amealharam, ao longo de sua história, uma aura que a destaca.
Escrita há duas décadas e meia pelo dramaturgo Renato Borghi, a peça havia interessado de tal maneira a atriz Dina Sfat, um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro no século 20, que o autor decidiu atender o pedido dela de escrever uma versão feminina do personagem principal, um ator em crise existencial, para que pudesse vivê-la nos palcos.
Já doente, Dina, que morreria de câncer pouco tempo depois (em 1989), não pôde assumir o papel. A primeira versão do texto, então, foi oferecida a Raul Cortez, no papel do protagonista, que a montou no final de 1987.
O Lobo de Ray-Ban foi um sucesso tão grande de público e crítica que permaneceu em cartaz por quatro anos, sempre com casa lotada. Agora, 23 anos depois, Christiane Torloni, que interpretou outro papel nessa montagem original, é quem está à frente do elenco, composto ainda por Leonardo Franco e Maria Maya.
O texto de agora foi readaptado do roteiro feito a pedido de Dina Sfat, com algumas atualizações. Mas guarda diferenças em relação à montagem com Raul Cortez.
"É outra peça", conceitua
Borghi. Dirigida novamente por José Possi Neto, contundo, A Loba de Ray-Ban vem repetindo o sucesso da primeira montagem.
Essencialmente, a peça versa sobre um triângulo amoroso. Os personagens envolvidos são atores de uma mesma companhia teatral. Em uma noite, um espetáculo é interrompido pela atriz principal, Júlia Ferraz (Christiane Torloni), que assume perante o público sua crise existencial e afetiva. Na frente da plateia ela revela o triângulo amoroso vivido por ela, o ex-marido (Leonardo Franco) e a atual amante dela (Maria Maya), ambos também atores da companhia dirigida por Júlia, em uma reação diante da iminência do fim dessas relações.
Inversões
Nesta versão, os papéis se invertem. Christiane Torloni assume o papel que era de Raul Cortez (morto em 2006), enquanto Leonardo Franco fica com o que era dela. O papel do jovem ator, representado em uma das temporadas na primeira montagem por Leonardo, agora é interpretado por Maria Maya.
"A estrutura da peça é a mesma. Ela continua discutindo as relações humanas. Sua essência se mantém", define
Christiane Torloni.
A peça protagonizada por Raul Cortez narrava a longa noite de loucura vivida por Paulo Prado, ator e dono de uma companhia teatral, que, após ser abandonado pelos dois grandes amores de sua vida, tem um ataque de nervos no meio de uma representação de Ricardo III, de Shakespeare. Diante do público, ele inicia uma espécie de prestação de contas afetivas e sexuais com a ex-mulher, a atriz Júlia Ferraz, e o namorado, o ator Fernando Porto. O enredo se mantém praticamente o mesmo na nova versão.
Com a inversão de gêneros no texto da adaptação feminina, Júlia tornou-se a persona de Paulo, e este assume a psique dela, e Fernando agora é Fernanda. Ao invés de Ricardo III, a peça interrompida da nova montagem é Medeia. Somente uma rápida cena de Esperando Godot permanece na nova versão, como uma homenagem de Borghi à atriz Cacilda Becker.
Sem fugir da polêmica
Em sua nova versão, A Loba de Ray-Ban não se abstém de abordar tabus que marcaram a peça na primeira versão, há 20 anos. Antes da estreia de 1987, o elenco e a produção chegaram a temer que a montagem não fosse bem aceita, por abordar temas como traição e homossexualidade. Nada que o talento ímpar de Raul Cortez não tenha resolvido, no entanto. O sucesso foi grande entre crítica e público, e a peça ganhou os principais prêmios nas categorias de autor, diretor e ator.
Na primeira versão, além de Raul Cortez e Christiane Torloni, o elenco era composto por Renato Modesto. Leonardo Franco entrou depois no projeto. Mais tarde Christiane também foi substituída, por Patrícia Pillar.
Durante o Festival de Teatro de Curitiba deste ano, onde a peça foi apresentada à imprensa, a reportagem do POPULAR conversou com o elenco da nova montagem.
"Eu já estava com idade para fazer o papel principal (risos) e resolvi investir novamente nesta montagem, que foi o divisor de águas da minha carreira", contou
Christiane.
Para
Leonardo Franco, a experiência de estar na primeira versão foi fundamental para trazê-lo para esta segunda empreitada do projeto.
"A convivência com Raul foi essencial para todas as minhas decisões na carreira", relembrou. Com a ideia inicial de montar O Lobo, como ele próprio no papel principal, foi pesquisar e acabou encontrado a versão do texto escrita para Dina Sfat.
"Foi importante para o Renato decidir fazer a montagem de novo."
Escolhida para viver a jovem atriz bissexual, que decide deixar o romance com a diretora da companhia,
Maria Maya, por sua vez, conta que encarou o convite como um desafio, já que seria seu primeiro papel de maior peso dramático.
"Percebo na minha geração uma superficialidade que está presente na Fernanda. Ela abdica, por exemplo, de certas questões morais por uma pseudoliberdade. É um texto que está me ajudando a amadurecer como atriz e como pessoa. Como ele, busco respostas também para a Maria Maya", disse.
SERVIÇO
Peça: A Loba de Ray-Ban
Data: Sábado (16), às 21 horas
Local: Teatro Rio Vermelho (Centro de Convenções, Rua 4, Centro)
Ingressos: R$ 60 (inteira). Meia entrada para estudantes, idosos, para assinantes do POPULAR e clientes Porto Seguro, ambos com acompanhante.
Vendas: Zastras Brinquedos (Av. T-4, quase esq. c/ T-10, Setor Bueno) e bilheteria do teatro
Classificação indicativa: 14 anos
Informações: (62)3582-0009 / (62)3219-3400
Fonte: O Popular (GoiasNet.com)