segunda-feira, 2 de agosto de 2010

" A Loba de Ray-Ban" chega à Santo André

"A Loba de Ray-Ban" dias 12 e 13 Julho

"A Loba de Ray-Ban" chega à Recife.

Christiane Torloni: "Não é tudo mundo que vira Loba"




INSTANTES DE DOR E PAIXÃO

Em pouco mais de 20 anos, o mundo deu muitas voltas. O muro de Berlim caiu, o Brasil controlou sua inflação, as torres gêmeas nos Estados Unidos vieram abaixo, Saddam Hussein morreu, a tecnologia possibilitou até transplante de face. Mas há certas coisas que, mesmo com toda a evolução, aindacausam certo impacto. Em 1987, por exemplo, quando Raul Cortez levou ao palco a bissexualidade na peça O lobo de Ray-ban, havia um certo suspense nas plateias Brasil afora. Mais de 20 anos depois, A loba de Ray-ban, versão feminina do texto, parece que ainda traz incômodo aos mais tradicionais. Tanto que, em Curitiba, no festival de teatro deste ano, alguns deixaram o ostensivo Teatro Positivo quando cenas 'um pouco mais quentes', entre Christiane Torloni e Maria Maya, começaram.

Fica só na insinuação, não é nada demais, nem a bissexualidade é um tema tão central assim na montagem que se apresenta hoje, às 21h, e amanhã, às 20h, no Teatro da UFPE. A peça, texto de Renato Borghi (escrito originalmente para Dina Sfat), falade amor, do abandono, da idade. "As grandes peças e os grandes textos são clássicos. A peça trata de grandes temas. A função da arte é fazer o homem se conhecer melhor. O espectador não é um voyeur. Ele pensa. A peça é para ele pensar a própria vida. Todo mundo tem uma grande paixão. A peça é uma metáfora dessa perda. Não importa se uma separação dói. O que importa é encarar de frente os fatos", explica o diretor das duas versões, José Possi Neto.

Na história, que faz uma metalinguagem ao próprio teatro, Christiane Torloni (que interpretava a ex-esposa de Cortez na primeira versão) é a famosa atriz Júlia Ferraz, que foi casada com o ator Paulo Prado (o mesmo Leonardo Franco, que fazia o amante de Raul Cortez) e agora está apaixonada por Fernanda Porto (Maria Maya, que interpretou a filha de Christiane em Caminho das Índias). Só que ela é abandonada pelos dois, numa mistura forte de dor, consciência do tempo e paixão.

O cenário grandioso simula o palco de um teatro e os bastidores de uma companhia. A peça começa exatamente na última noite de Paulo Prado na companhia, quando eles encenam Medeia. Só que Júlia começa a intercalar trechos da sua própria história com a da malvada Medeia, que mata os filhos para se vingar do abandono de Jasão. Já quando vai fazer o teste com a sua nova paixão, o texto escolhido é As criadas, de Jean Genet. Uma encenação forte, carregada de peso dramático, com uma atriz que tem pleno domínio do palco, ao lado de companheiros que alcançam o seu ritmo.

"A montagem com Raul era mais seca plasticamente, nua, em preto e branco. Essa é operística, tem a vermelhidão, o coração, o sangue da mulher", define Leonardo Franco. Os ingressos para a peça custam R$ 100 (plateia) e R$ 80 (balcão), à venda na Livraria Saraiva, no Shopping Recife, e na bilheteria do teatro. Estudantes pagam meia-entrada. Assinantes do Diario compram até um par de ingressos pelo preço da meia-entrada. Informações: (81) 3207-5757.

Entrevista





JP-Como era fazer a peça há 20 anos? O tempo pesa de alguma forma?
CT-Eu era menos famosa e menos experiente. Neste sentido, o tempo é ótimo. Eu nunca poderia ser a Loba naquela época. Seria, no máximo, uma lobinha. Aliás, não é todo mundo que vira loba, muitos viram uma ovelha velha apenas. E como se faz para ser loba? Ser loba é enfrentar o desafio da vida de frente. É não desistir nunca. É continuar. Mas não simplesmente continuar. Ir em frente com coragem, determinação. Assumindo os desafios.


JP-A peça se passa num teatro, com personagens que são atores. Existe aí um retrato do cotidiano de vocês, atores?
CT- A peça não é sobre o cotidiano do teatro. Se fosse discutir a nossa vida no teatro seria um inferno. A peça se passa num dia específico. Ela pega um instante da vida dessa companhia, quando o circo pega o fogo. É isso que as pessoas querem ver: o circo pegando fogo. É por isso que os reallity shows fazem tanto sucesso.

JP-Você e a Maria Maya foram mãe e filha na novela Caminho das Índias e agora estão no teatro como amantes. Como foi isso?
CT-A Maria fez um teste para a peça há dois anos e depois ficamos sabendo que nós duas iríamos trabalhar em Caminho das Índias, fazendo mãe e filha. Então nós adiamos a peça para fazer a novela. Nesse tempo, a produção captou os recursos para o espetáculo. Acho interessante ter tido esses dois trabalhos próximos com a Maria. Acredito que o trabalho vai se acumulando, vai melhorando a interação. Eu trabalho há 35 anos com Tony Ramos, fazemos mais um casal no filme Chico Xavier. Temos uma comunicação bem melhor por conta da experiência acumulada.


Fonte: Diário de Pernambuco

domingo, 1 de agosto de 2010

JC Christiane Torloni fala de sua peça

Christiane Torloni fala de sua peça "A Loba de Ray-Ban"

O processo de uma vasta crise afetiva e profissional de uma mulher madura mergulhada em inquestionável solidão é o cerne do espetáculo A Loba de ray-ban, encabeçado por Christiane Torloni, que aporta no Recife neste fim de semana. Uma diva do teatro, atriz conceituada e líder de uma renomada companhia entra em colapso quando seus companheiros, de palco e de vida, seu marido e sua amante a abandonam em pleno cena. O espetáculo dá vez ao escândalo pessoal e vida e arte se misturam diante dos olhos de público (fictício e real).




A peça, em cartaz sábado e domingo no Teatro da UFPE, é uma versão feminina de "O Lobo de Ray-Ban", de Renato Borghi, originalmente protagonizado por Raul Cortez e a própria Torloni no elenco, além do ator Leonardo Franco. A montagem de 1987, cercada de polêmicas, configurou-se como um marco da dramaturgia oitentista nacional. Ambas montagens têm direção de José Possi Neto.


Marco também na carreira da própria Torloni, que iniciou com "O Lobo de Ray-Ban" uma parceria com o Possi Neto que viria a render bons frutos no palco. Juntos, diretor e atriz realizaram sucessos como Salomé, de Oscar Wilde; Joana D’Arc, Blue room e As mulheres por um fio.

Passados 22 anos, Possi tira a poeira do texto resguardado por anos a fio ao lado da amiga e parceira Christiane Torloni, que também assina a produção da peça. Numa dança das cadeiras nos papéis, Torloni passa a fazer o papel que era de Raul Cortez. Leonardo Franco o que era de Christiane e o papel do jovem ator, antes representado por Leonardo, agora é interpretado por Maria Maya.




Christiane Torloni conversou, por telefone, com o JC Online sobre a peça e sua personagem. Confira a entrevista.

JC Online - Você integrava o elenco da peça na década de 80 e agora reintegra a montagem em outro papel, como é viver o texto por outra perspectiva?
Christiane Torloni - É realmente uma experiência bárbara, poucos artistas vivenciam uma oportunidade como essa de investigar tão fundo uma obra e ainda inteprertar outro personagem, é como passear pelo texto. Sinto-me premiada.

JC Online - Na primeira versão o papel-título era de um homem, nessa adaptação, o lobo vira loba. É complicado transmutar uma alma feminina para o personagem?
C.T. - O texto já abria esse precedente. Quando o Raul encenou o lobo, Renato Borghi, o [autor] começou a conceber para Dina Sfat uma versão feminina. Como o texto se baseia metaliguisticamente no universo do teatro, levou vários meses para que ele fizesse um paralelo feminino dos clássicos papéis masculinos como Ricardo III de Shakespeare, para Medeia de Eurípedes, ou Eduardo II, de Marlowe, para diálogos de As Criadas, de Jean Genet. Quando o texto ficou pronto, infelizmente a Dina já estava muito doente [a atriz veio a falecer em 1989] e a peça ficou engavetada.

Então a Loba em si já existia desde a sua concepção. Não é simplesmente um reflexo como espelho do Lobo, a Loba é uma mulher complexa, com seus sentimentos e crises muito intrísecos a uma alma feminina, então o mergulho não foi apenas meu, mas a personagem já trazia incutida sua feminilidade.

JC Online - E que há de Torloni nessa Loba, você se identifica com ela?
C.T. - De certa forma, eu cresci e amadureci com ela. Além das idenficações óbvias, dela ser uma atriz de meia-idade como eu [risos], ela estava sob minha percepção desde a encenação do Lobo. É como se a gente fosse ficando cada vez mais íntimo por que o mesmo aconteceu com a gente da equipe. Fiz sete espetáculos com o Possi [diretor] antes de revisitarmos essa montagem, então a gente também cresceu todo mundo junto. E, afora a poligamia, a Loba é uma mulher muito universal, com suas crises e questionamentos, a ira, a dor do abandono, e está um pouco em cada uma de nós. Só não fui, como ela, abandonada pela minha companhia em pleno palco, isso seria trágico demais para qualquer atriz, deus me livre! [risos].

JC Online - E o referencial do Raul Cortez como o Lobo, ficou algum tom nostálgico nesse resgate?
C.T. - É como se ele tivesse sempre aqui no palco. O papel vai ser sempre o Lobo, e sempre do Raul. O lobo é ele, não tenho tanta loba assim como arquétipo, inclusive pela própria bissexualidade do personagem. Parece um reencontro, a gente ouve ele nos ensaios, dá pra escutar ele gritando e impulsionando todo mundo. E ele deixou como legado essa referência de qualidade. Sabemos que menos do que aquilo não podemos oferecer. Pode não ser melhor, mas menos é inadmissível.

JC Online - O enredo da peça trata de temáticas indigestas e polêmicas como bissexualidade e relacionamento livre, na época do lançamento de ‘O Lobo de Ray-Ban’ houve um frisson sobre a montagem. Após 22 anos, você acha que o mundo mudou ou tais assuntos ainda são tabus?
C.T. - Eu acho que o mundo tá mais careta. Há mais hipocrisia na sociedade. Quando existem países que aindam colocam a homossexualidade como crime punível com pena de morte é sinal de que o mundo andou pra trás.

Fonte: JC Online

"A Loba de Ray-Ban" chega a cidade de Ribeirão Preto

A atriz Christiane Torloni estrela a peça "A Loba de Ray-Ban", em cartaz nesta sexta-feira (7) e no sábado (8), às 21h, no Theatro Pedro II, em Ribeirão Preto.



Aos 53 anos,
Christiane Torloni é uma das atrizes de maior sucesso na TV brasileira. Começou ainda adolescente na extinta TV Tupi e há 35 anos marca presença nas novelas da Rede Globo. Politizada e atenta ao problemas ambientais do país, seu projeto "Amazônia Para Sempre" foi premiado no ano passado.

Produtora artística e crítica das mudanças da Lei Rouanet defendidas pelo governo federal, Christiane ressalta que, apesar das dificuldades, ainda vale a pena investir em teatro "porque a cultura é o retrato de um povo".

A atriz se apresenta, nesta sexta-feira (7) e sábado (8), no Theatro Pedro II, como a personagem principal do espetáculo "A Loba de Ray Ban", escrito há 23 anos e que ganhou um versão masculina famosa com Raul Cortez. Na época, Christiane fazia o papel de esposa do "lobo". Na entrevista a seguir, a artista fala sobre teatro, ecologia e política cultural. Confira.






A Cidade -
É verdade que seu papel em ‘Loba de Ray Ban’ foi originalmente escrito para a Dina Sfat em 1987?
Christiane Torloni - Quando o Renato Borghi mostrou o texto para a Dina, ela pediu para direcioná-lo para o gênero feminino, porque ela queria fazer. O Borghi levou oito meses para esta nova versão, e quando ficou pronta, a Dina já estava muito doente [a atriz morreu de câncer em 1989], então ele entregou para o Raul Cortez. Foi quando nós fizemos em 1987. Eu fazia o papel que hoje é o do Leonardo Franco. Ou seja, eu era a esposa e o Leonardo agora é o marido.

A Cidade - Por que retomar este espetáculo 23 anos depois?
Christiane - Porque é um prêmio pra mim. Mas não é uma remontagem, porque no momento em que o personagem principal é uma mulher, tudo muda. Tem outro tipo de contundência. Para uma atriz que fez este espetáculo há 23 anos e poder retomá-lo, realmente é um prêmio. Inclusive porque percebe-se um amadurecimento do próprio personagem que eu fiz naquela época. É a Júlia 23 anos depois.

A Cidade - Depois da temporada em São Paulo, Ribeirão Preto é a primeira cidade a receber a peça fora da capital?
Christiane - Sim. Ribeirão Preto é uma referência de público e de teatro. Aliás, nós fomos para Ribeirão com ‘Lobo de Ray Ban’ anos atrás, num outro teatro [Teatro Municipal]. É muito interessante, porque muitas pessoas que viram o Lobo antes podem fazer essa observação entre os dois espetáculos.

A Cidade - E a Christiane mudou muito nessas duas décadas?
Christiane - (risos) Muito, agora virei loba, né (risos).

"A Loba de Ray Ban"

Sexta (7) e sábado (8), às 21h, no Theatro Pedro II

Rua Álvares Cabral, 370

Ingressos a R$ 60 (platéia, frisa e balcão nobre), R$ 50 (balcão simples) e R$ 40 (galerias).

Informações: (16) 3977-8111.
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