Christiane Torloni: "Não é tudo mundo que vira Loba"
INSTANTES DE DOR E PAIXÃO
Em pouco mais de 20 anos, o mundo deu muitas voltas. O muro de Berlim caiu, o Brasil controlou sua inflação, as torres gêmeas nos Estados Unidos vieram abaixo, Saddam Hussein morreu, a tecnologia possibilitou até transplante de face. Mas há certas coisas que, mesmo com toda a evolução, aindacausam certo impacto. Em 1987, por exemplo, quando Raul Cortez levou ao palco a bissexualidade na peça O lobo de Ray-ban, havia um certo suspense nas plateias Brasil afora. Mais de 20 anos depois, A loba de Ray-ban, versão feminina do texto, parece que ainda traz incômodo aos mais tradicionais. Tanto que, em Curitiba, no festival de teatro deste ano, alguns deixaram o ostensivo Teatro Positivo quando cenas 'um pouco mais quentes', entre Christiane Torloni e Maria Maya, começaram.
Fica só na insinuação, não é nada demais, nem a bissexualidade é um tema tão central assim na montagem que se apresenta hoje, às 21h, e amanhã, às 20h, no Teatro da UFPE. A peça, texto de Renato Borghi (escrito originalmente para Dina Sfat), falade amor, do abandono, da idade. "As grandes peças e os grandes textos são clássicos. A peça trata de grandes temas. A função da arte é fazer o homem se conhecer melhor. O espectador não é um voyeur. Ele pensa. A peça é para ele pensar a própria vida. Todo mundo tem uma grande paixão. A peça é uma metáfora dessa perda. Não importa se uma separação dói. O que importa é encarar de frente os fatos", explica o diretor das duas versões, José Possi Neto.
Na história, que faz uma metalinguagem ao próprio teatro, Christiane Torloni (que interpretava a ex-esposa de Cortez na primeira versão) é a famosa atriz Júlia Ferraz, que foi casada com o ator Paulo Prado (o mesmo Leonardo Franco, que fazia o amante de Raul Cortez) e agora está apaixonada por Fernanda Porto (Maria Maya, que interpretou a filha de Christiane em Caminho das Índias). Só que ela é abandonada pelos dois, numa mistura forte de dor, consciência do tempo e paixão.
O cenário grandioso simula o palco de um teatro e os bastidores de uma companhia. A peça começa exatamente na última noite de Paulo Prado na companhia, quando eles encenam Medeia. Só que Júlia começa a intercalar trechos da sua própria história com a da malvada Medeia, que mata os filhos para se vingar do abandono de Jasão. Já quando vai fazer o teste com a sua nova paixão, o texto escolhido é As criadas, de Jean Genet. Uma encenação forte, carregada de peso dramático, com uma atriz que tem pleno domínio do palco, ao lado de companheiros que alcançam o seu ritmo.
"A montagem com Raul era mais seca plasticamente, nua, em preto e branco. Essa é operística, tem a vermelhidão, o coração, o sangue da mulher", define Leonardo Franco. Os ingressos para a peça custam R$ 100 (plateia) e R$ 80 (balcão), à venda na Livraria Saraiva, no Shopping Recife, e na bilheteria do teatro. Estudantes pagam meia-entrada. Assinantes do Diario compram até um par de ingressos pelo preço da meia-entrada. Informações: (81) 3207-5757.
EntrevistaFica só na insinuação, não é nada demais, nem a bissexualidade é um tema tão central assim na montagem que se apresenta hoje, às 21h, e amanhã, às 20h, no Teatro da UFPE. A peça, texto de Renato Borghi (escrito originalmente para Dina Sfat), falade amor, do abandono, da idade. "As grandes peças e os grandes textos são clássicos. A peça trata de grandes temas. A função da arte é fazer o homem se conhecer melhor. O espectador não é um voyeur. Ele pensa. A peça é para ele pensar a própria vida. Todo mundo tem uma grande paixão. A peça é uma metáfora dessa perda. Não importa se uma separação dói. O que importa é encarar de frente os fatos", explica o diretor das duas versões, José Possi Neto.
Na história, que faz uma metalinguagem ao próprio teatro, Christiane Torloni (que interpretava a ex-esposa de Cortez na primeira versão) é a famosa atriz Júlia Ferraz, que foi casada com o ator Paulo Prado (o mesmo Leonardo Franco, que fazia o amante de Raul Cortez) e agora está apaixonada por Fernanda Porto (Maria Maya, que interpretou a filha de Christiane em Caminho das Índias). Só que ela é abandonada pelos dois, numa mistura forte de dor, consciência do tempo e paixão.
O cenário grandioso simula o palco de um teatro e os bastidores de uma companhia. A peça começa exatamente na última noite de Paulo Prado na companhia, quando eles encenam Medeia. Só que Júlia começa a intercalar trechos da sua própria história com a da malvada Medeia, que mata os filhos para se vingar do abandono de Jasão. Já quando vai fazer o teste com a sua nova paixão, o texto escolhido é As criadas, de Jean Genet. Uma encenação forte, carregada de peso dramático, com uma atriz que tem pleno domínio do palco, ao lado de companheiros que alcançam o seu ritmo.
"A montagem com Raul era mais seca plasticamente, nua, em preto e branco. Essa é operística, tem a vermelhidão, o coração, o sangue da mulher", define Leonardo Franco. Os ingressos para a peça custam R$ 100 (plateia) e R$ 80 (balcão), à venda na Livraria Saraiva, no Shopping Recife, e na bilheteria do teatro. Estudantes pagam meia-entrada. Assinantes do Diario compram até um par de ingressos pelo preço da meia-entrada. Informações: (81) 3207-5757.
JP-Como era fazer a peça há 20 anos? O tempo pesa de alguma forma?
CT-Eu era menos famosa e menos experiente. Neste sentido, o tempo é ótimo. Eu nunca poderia ser a Loba naquela época. Seria, no máximo, uma lobinha. Aliás, não é todo mundo que vira loba, muitos viram uma ovelha velha apenas. E como se faz para ser loba? Ser loba é enfrentar o desafio da vida de frente. É não desistir nunca. É continuar. Mas não simplesmente continuar. Ir em frente com coragem, determinação. Assumindo os desafios.
JP-A peça se passa num teatro, com personagens que são atores. Existe aí um retrato do cotidiano de vocês, atores?
CT- A peça não é sobre o cotidiano do teatro. Se fosse discutir a nossa vida no teatro seria um inferno. A peça se passa num dia específico. Ela pega um instante da vida dessa companhia, quando o circo pega o fogo. É isso que as pessoas querem ver: o circo pegando fogo. É por isso que os reallity shows fazem tanto sucesso.
JP-Você e a Maria Maya foram mãe e filha na novela Caminho das Índias e agora estão no teatro como amantes. Como foi isso?
CT-A Maria fez um teste para a peça há dois anos e depois ficamos sabendo que nós duas iríamos trabalhar em Caminho das Índias, fazendo mãe e filha. Então nós adiamos a peça para fazer a novela. Nesse tempo, a produção captou os recursos para o espetáculo. Acho interessante ter tido esses dois trabalhos próximos com a Maria. Acredito que o trabalho vai se acumulando, vai melhorando a interação. Eu trabalho há 35 anos com Tony Ramos, fazemos mais um casal no filme Chico Xavier. Temos uma comunicação bem melhor por conta da experiência acumulada.
Fonte: Diário de Pernambuco
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