quarta-feira, 30 de junho de 2010

Delírio de uma Loba.

Christiane Torloni delírio de uma loba e sua alcateia.




Há vinte anos, a atriz foi um dos personagens da primeira montagem da peça. Desta vez, está vivendo a protagonista.



Julia Ferraz no papel de Medeia.


Uma história de acerto de contas de relacionamentos amorosos serve de pano de fundo para o autor, Renato Borghi, discutir o teatro e a vida. No teatro nunca teve essa de "onde se ganha o pão não se come a carne". Tudo é visceral no mundo das artes. Uma separação, uma sociedade familiar desfeita e um terceiro elemento imposto à relação de muitos anos. Isso já foi discutido nos clássicos da Grécia Antiga e continua a ser assunto para as revistas de fofocas que envolvem os semideuses dos novos tempos, vulgarmente conhecidos como celebridades.
José Possi Neto já havia encenado A Loba de Ray-Ban, há 20 anos, no Rio de Janeiro, o mesmo texto tendo Raul Cortez, como protagonista; Christiane Torloni, vivendo a esposa; e Leonardo Franco, no papel de amante do Lobo (em São Paulo era Renato Modesto). O jogo é outro - e o triângulo amoroso agora é formado por duas mulheres e um homem -, mas a discussão permanece a mesma: amor, traição, sexualidade. Segundo o próprio Possi, essa peça "Não é uma remontagem. É como se estivesse encenando um clássico".


Com a vulgarização do espaço cênico, repleto de montagens malcuidadas, visando apenas a obtenção de altos valores de patrocínio e gordas arrecadações de bilheteria e encabeçadas por atores que sobrevivem da imagem televisiva, o bom teatro é cada vez mais raro.

O triângulo amoroso de A Loba merece tratamento primoroso da direção de José Possi Neto que, com sua mão firme e certeira, coloca tudo a serviço do espetáculo: os atores, cada foco de luz, bem como cada um dos elementos cênicos. Cenas de nudez masculina e de ternura "caliente" entre mulheres são levadas ao palco com extremo bom gosto e não chocam a plateia, ávida para ver o circo pegar fogo. E o circo pega fogo, mas não pela vulgaridade.


Possi mostra, em
A Loba, que ainda há espaço para o bom teatro. Ele é um encenador que não economiza e tem deixado isso muito claro desde o início da carreira. Não consigo me esquecer de Tratar com Murdock, que ele encenou há algumas décadas. Possi apresentava, para uma pequena plateia, os aposentos de uma velha senhora repousando em seu leito, enquanto seu mordomo oferecia ao público, através de um tecido transparente, seus sonhos eróticos. O diretor nunca abandonou o teatro em que acredita para render-se ao simples. Com ele não tem essa de "um banquinho e um violão". Nas montagens assinadas por Possi, sempre serão necessários muitos violões e muitos banquinhos. E o mais surpreendente é que, na maioria das vezes, suas soluções mirabolantes parecerem muito simples.


A cenografia de Jean-Pierre Tortil e os figurinos assinados por Fabio Namatame dialogam com a dramaturgia e a direção. Ambos os trabalhos transitam entre o mais comum dos adereços aos mais sofisticados elementos que servem para contar a história dos personagens (e dos personagens vividos por eles). O teatro dentro do teatro. São malhas com tramas gigantescas, ponte levadiça e cortina quilométrica. Mais uma vez, cabe ao encenador usar cada um desses recursos sem que permaneçam inúteis e apenas elementos decorativos.

Assim como cada detalhe da construção cênica merece toda a atenção de seu maestro, os atores não são exceção. Cada gesto da bela protagonista, Christiane Torloni, é desenhado pelo encenador. Nenhum dos atores pode se sentir abandonado em cena tendo de lutar utilizando apenas os próprios talentos. Os tentáculos da direção se ocupam de tudo. Possi tira dos atores o melhor de cada um e o resultado são interpretações fortes e emocionantes, desde a experiente e velha parceira, Christiane Torloni - já acostumada a seus delírios - aos outros protagonistas da trama, Leonardo Franco e Maria Maya.


A Loba de Ray-Ban
para no fim de dezembro, mas volta no início de janeiro no mesmo teatro em São Paulo.

EXCERCÍCIO DE OUSADIA
Christiane Torloni, Maria Maya e Leonardo Franco




Maria Maya (Fernanda Porto), Leonardo Franco (Paulo Prado) e Christiane Torloni (Júlia Ferraz).

Fonte: Revista Brasileiros

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Loba de Ray-Ban - Talentosa alcateia

Crítica do espetáculo, feita por Darson Ribeiro (que é ator, autor e também diretor teatral)

A história de Possi Neto com o teatro já daria mais de uma peça. A união dele com Leonardo Franco – idealizador do projeto – e a estonteante Christiane Torloni, resultou numa excelente revisitação do texto O Lobo de Ray-Ban por um outro ícone teatral: Renato Borghi. Esta alcateia de lobos vorazes pelo palco ainda tem o esteio de Fabio Namatame nos figurinos deslumbrantes e fiéis, e outros aliados que fizeram da montagem um espetáculo, como o veterano Renato Dobal e a jovem Maria Maya que se faz acontecer. Um espetáculo que acrescenta ao original de 87 onde Cortez era o lobo-mor – agora vivido por La Torloni.

É teatro puro. Nada do chavão “meta-teatro”. São seres de carne-osso estimulados pelo fazer teatral a tal ponto de se encontrarem além das personagens, em meio a coxias, cortinas, refletores, tronos solitários, passarelas que ali, levam todos a si mesmos. Restos de cenário. Restos de gente. É uma espécie de terapia de grupo bem-sucedida com ouvintes (o público). Mais que isso: participantes, porque a peça pega, explicita o velado com prazer e tirania; com honestidade e doses de libertinagem; com vigor e inteligência. Que chato a ausência disso na vida.

Altamente teatralizada por Possi, o texto flui e tem-se a impressão de que está sendo falado por muitas bocas, porque vem de encontro a deslocamentos sexuais - como os tão falados (e desejados) triângulo amoroso e bissexualidade. Pelo menos ali, no palco, a imaginação se deixa executar. Principalmente para quem os vê e os deseja. Longe de dominações masculinas, de indiferenças, de idades opostas. O que vale é a contemporaneidade do sentimento, que busca a essência. Essa é a vibe. E isso não vai envelhecer. E é pelo teatro que a ruptura da mesmice vem. É por ele, que o público desvenda-se também “anormal” diante do poder que o artista tem, de se exercitar. De se testar. De se deixar levar pela gana, pelo tesão, ou pelo “encontrar-se” nas mais diversas formas de conflitos existenciais. Viver é passar por esses suplícios.

A Loba de Ray-ban merece ser vista. Merece ser analisada em suas reticências, em suas entrelinhas. É o bom gosto exposto com o rosto oposto a tudo que se priva. A tudo que se busca pelo contrário. Deixe seu ray-ban em casa e se encontre com essa gente talentosa, exuberante e que está lá trabalhando por melhorias: as internas, que são as mais buscadas. E as melhores.

Fonte: Portal Onne


Tour de Force de Torloni e Leonardo.

Atores encenam nova versão de Triunfo com Raul Cortez.



Considerado um marco na trajetória de Christiane Torloni e Leonardo franco e Raul Cortez, O Lobo de Ray-ban, e agora no feminino, volta á cena no Teatro Shopping Frei Caneca, em SP, 22 anos apos a 1 primeira montagem, agora com Christiane no papel que foi de Raul e Leonardo no lugar dela.
O texto de Renato Borghi de novo foi dirigido por José Possi Neto, emocionou. "Obrigada ao Eterno Lobo Raul" afirmo Christiane, com os pais,Geraldo Matheus e Monah Delacy ."Estou orgulhoso",disse Wolf Maya sobre a filha Maria Maya ,que, com Renato Dobal e Ana Lopes Dias, completa o Elenco da peça sobre um triângulo amoroso entre atores.



Fonte: CARAS

Istoé.

A Loba de Ray-Ban.




A peça "O Lobo de Ray-Ban", com texto de Renato Borghi e direção de José Possi Neto, foi grande sucesso de público e crítica na década de 1980. Está de volta agora com uma mudança fundamental. O lobo encarnado por Raul Cortez na primeira montagem tornou-se loba, numa exuberante interpretação da atriz Christiane Torloni.
Assim, o vértice principal do conturbado triângulo amoroso mostrado nessa história é a personagem bissexual Júlia Ferraz, uma atriz por volta dos 50 anos, bem-sucedida e dona de uma próspera companhia de teatro.
Ela e o marido se separam e Fernanda Porto (Maria Maya), uma jovem intérprete, torna-se sua amante. A trama se passa numa noite dentro de um teatro, em que o trio se encontra e trava o seu mais doloroso embate.
Christiane dá o ritmo, alternando com maestria intensidade dramática e humor, com um controle cênico digno das grandes estrelas.



Fonte: Istoé

A hora e a vez da Loba.

Christiane Torloni revive papel que foi de Raul Cortez ao lado de Leonardo Franco e Maria Maya.



Em entrevista coletiva, Christiane Torloni, Leonardo Franco e José Possi Neto falam da peça “A Loba de Ray Ban”, versão feminina do texto de Renato Borghi montado em 1987 (veja fotos), com Raul Cortez no papel principal - e que trazia a própria Christiane no elenco, além do ator Leonardo Franco na temporada carioca. Na nova montagem, a atriz Maria Maya completa o time de atores. Confira alguns trechos:

Como é retomar a peça 22 anos depois?
Christiane Torloni: A sensação que tenho é que a Julia cresceu. Este novo papel poderia ser o desenvolvimento daquela mulher que, há duas décadas, tinha trinta anos e era casada com um grande ator. Agora ela é uma mulher de cinqüenta, se tornou uma loba e hoje a vida dela é assim. Não é uma inversão de papéis e sim uma evolução. E nós temos uma trajetória importante que começa com “O Lobo de Ray Ban”, dirigido por Possi. A história da peça no ponto de vista da dramaturgia é incrível. “A Loba” nasce, segundo o autor Renato Borghi, na leitura de “O Lobo” para alguns amigos, entre eles Dinah Sfat - que se reconhece nesse personagem e diz que quer fazer. Borghi então cria uma versão feminina do texto, mas infelizmente Dinah não pode agarrá-la antes de Raul Cortez. Na mesma forma que Léo me mostrou há dois anos, quando agarrei o projeto. É uma história tão universal que parece natural o que está acontecendo.

Conte da trajetória da produção atual até chegar ao palco.
Leonardo Franco:
Eu tinha 23 para 24 anos, quando me deparei com Possi, Cortez e Renato Borghi. Era estudante de psicologia e ensaiava ser ator na própria faculdade. Para minha sorte, minha primeira produção foi “O Lobo”. Fui apresentado ao teatro que dá certo por Cortez e Possi e isso marcou profundamente minha vida, determinou uma série de escolhas e a trajetória que quis seguir. Viajar na sua peça de estréia com pessoas deste gabarito faz com que o ator entenda o caminho que quer traçar. Entrei no segundo elenco, com Patrícia Pillar substituindo a Christiane, fizemos um grande percurso pelo Brasil. Quando a peça acabou, eu tinha ficado cerca de 11 meses em cartaz e senti que precisava mais tempo com “O Lobo”. Logo em seguida, soube da versão feminina e fui atrás de Borghi. Ele não tinha mais o original do texto, que encontrei em uma biblioteca no Rio de Janeiro. Guardei por 17 anos com a intenção de reviver aqueles momentos esplendorosos do inicio da minha carreira. A idéia era inaugurar o Centro Cultural Solar de Botafogo, no ano passado, mas não conseguimos viabilizar. Estreamos com “Campo de Provas”, de Aimar Labaki, que para minha felicidade era dirigida por Ignácio Coqueiro, marido de Christiane. Por conta disso, eles foram à estréia da peça e Christiane soube que eu estava com o texto da “A Loba” e me procurou. Para mim, fazer esta montagem com Possi e Christiane é um retorno. O meu projeto é viver os três papéis: fui o jovem ator há 22 anos, agora sou marido e daqui a dez anos já tenho um compromisso com Borghi para viver o Lobo. Raramente isso acontece na vida de um ator.

A peça trata do homossexualismo?
José Possi Neto: O assunto principal da peça não é o homossexualismo. Este é apenas um dos temas. Mas como é ainda um tabu, ele acaba aparecendo na frente. O grande assunto é o relacionamento amoroso, o papel da traição, da paixão e do ciúme. Por isto esta peça é universal, nunca fica datada. Um clássico. A relação de ciúmes e a relação de casal estão presentes, por isso as pessoas se encontram ali. A paixão, o amor e o abandono, a dor da separação - todo mundo se projeta nisso. Paralelo a isto, o que governa essas relações é uma paixão por uma causa maior: o teatro. Por causa do preconceito, a personagem de Maria se separa de Júlia. Mas o que mais magoa a “loba” não é a separação amorosa, mas o fato que ela está perdendo seus parceiros artísticos. A peça defende a honestidade, não o homossexualismo.


Como o passado e o presente se encontraram no processo de ensaio?
Christiane: O processo foi peculiar. Como tínhamos pouco tempo de ensaio, Possi pediu para que decorássemos o texto antes de nos reunirmos, o que não é muito normal na cronologia de uma montagem. E quando sozinha começava a ler, a música do texto era a música do Raul. De coração, eu sei o texto da Julia e ouvia o Raul falando, eu me emocionava muito neste processo e em algumas leituras. Era como se ele sussurrasse as falas em meu ouvido. Agora eu estou começando a vivenciar a personagem. É parecido com um jogral, com vozes do passado que continuam em cena. Essa presença do Raul falando é muito forte. A Julia foi um upgrade para mim. Na primeira montagem estava com 30 anos, uma idade marcante para a mulher. Agora, eu e ela temos outra passagem de nível que é para uma maturidade, que preciso ter para entrar nessa caverna, nessa aventura. E tenho o Raul muito presente vivenciando essa mudança interna. O texto veio para me dizer que já cheguei a algum lugar. Agora me diz: “você é uma loba, seja loba!”


Fonte: Página de teatro.

Estado de São Paulo.

Christiane Torloni em pele e garra de Loba.




Agora ela é a protagonista da peça de Renato Borghi em sua versão feminina.

Impossível não experimentar uma sensação de fascínio diante da bela cenografia que se avista na penumbra da imensa boca de cena do grande palco do Teatro Frei Caneca. Numa das cadeiras da plateia quase inteiramente vazia, o diretor José Possi Neto, microfone à mão, testa com sua equipe um efeito cênico que envolve a um só tempo luz, espelhos e música. Lá no fundo do palco repousa uma vara de luz - o comprido bastão de madeira que sustenta vários refletores. "Ao primeiro blão do piano começam a subir a luz e descer os espelhos", diz ele. "Mais devagar com a luz, mais intensidade, aí, subiu demais, volta, o ponto é esse." Enquanto sobe a vara, os refletores se acendem criando focos em forma de cones enquanto, bem mais à frente do palco, três espelhos gigantescos descem, tudo ao som do piano. O efeito é mesmo muito bonito.

Possi é um esteta do palco. Mas a julgar pelo ensaio acompanhado pela reportagem do Estado, o público pode esperar bem mais do que beleza visual nesse espetáculo que faz ensaio aberto hoje, estreia para convidados amanhã e para o público no sábado, a versão feminina de O Lobo de Ray-Ban, texto de Renato Borghi cuja versão masculina, também dirigida por Possi em 1987, com Raul Cortez como protagonista, fez uma daquelas carreiras de enorme sucesso, dois anos de temporada viajando por todo Brasil e até para o exterior. Mais do que apuro visual, o texto pede bons intérpretes e encontrou na atriz Christiane Torloni, verdadeiramente, a loba do título.

Sentimentos como paixão e rejeição, quando atingem extremos, não são nada fáceis de serem interpretados. Uma cena, como há nessa peça, em que uma mulher se lança literalmente aos pés de outra pessoa e implora para não ser abandonada, pede uma qualidade de interpretação muito especial. Se a atriz não se lança plena, se fica a meio do caminho, nada acontece. Se decide "exibir" a dor, cai no ridículo, que se separa do patético, no sentido do "pathos" dramático, por uma linha tênue. É cena que pede despudor e senso de medida, visceralidade e domínio técnico, tudo ao mesmo tempo. E, pelo que se viu no ensaio,
Christiane vive um momento de atriz capaz de alcançar tal diapasão. E tem nos atores Leonardo Franco e Maria Maya parceiros de cena à altura do protagonismo que a peça exige dela.

Efeitos de cena, jogos e truques teatrais não são gratuitos nesse espetáculo cuja trama, muito bem urdida, de Renato Borghi, presta homenagem ao teatro, mais especificamente a uma certa tradição cênica, predominante nos últimos dois séculos, cujo espaço por excelência é o edifício teatral, abrigo do palco italiano, a caixa cênica com maquinaria inspirada na construção naval, com seus cordames e panos (velames), urdimentos e alçapões. Sobre seu tablado de madeira gerações de atores deram vida a textos estruturados em atos, personagens, relações de causa e efeito. E encantaram plateias ao longo dos tempos. Eles, seus amores e seu ofício são tema dessa peça.
"Quando fizemos a primeira montagem, tínhamos medo de que só tivesse interesse para a classe teatral", lembra Possi. Por motivos óbvios, essa preocupação não existe mais. A versão feminina de O Lobo de Ray-Ban tem como protagonista Julia Ferraz, primeira atriz e empresária, dona da companhia, que um dia se apaixonara pelo jovem ator Paulo ao vê-lo numa cena de Marat/Sade. Juntos, eles viveram um casamento amoroso e artístico de 12 anos. Quando a peça tem início, a separação afetiva entre eles ocorrera há um ano, mas a parceria na arte se mantivera. No entanto, a noite flagrada - em que se representa não por acaso Medeia, a tragédia de Eurípedes na qual a protagonista mata seus filhos para vingar-se do abandono de Jasão - será a última apresentação dele na companhia. Paulo rompeu seu contrato e vai atuar na televisão.

Bissexual, Julia já está apaixonada pela jovem atriz Fernanda, que há um ano se integrara à empresa. Não por coincidência, mas por escolha nada aleatória de Renato Borghi, a jovem atriz foi aprovada num teste para a peça As Criadas, de Jean Genet, que enfoca uma relação de amor e ódio das três mulheres do título, com a rica, bela e poderosa madame. Mas também ela, a jovem atriz, avisa naquela mesma noite que deixará a companhia. A dor pesa e Julia Ferraz, em plena representação, começa a chamar Jasão de Paulo, mistura tudo, até interromper a cena. "São várias quartas paredes", diz Possi, referindo-se àquela separação invisível que faz do espectador um voyeur. Isso porque, quando a cena é interrompida para o suposto público de Medeia, ela não só continua, como se intensifica, para quem foi ver A Loba. "Separação, adultério, rejeição, paixão, desejo de vingança. Quem não viveu alguma dessas experiências!", diz Torloni. "E a peça aborda sentimentos sem meias palavras, sem poupar ninguém, elenco ou público."

Imagina-se que a bissexualidade fosse um tema de trato mais delicado há 22 anos. "De jeito nenhum. Estávamos mais próximos dos anos 70, da geração que fez a revolução do prazer, antes que a filosofia yuppie, da década de 80, se sedimentasse. E veio a aids, que provocou um retrocesso na liberdade sexual. Há, claro, permissão para os jovens dormirem com suas namoradas na casa dos pais, mas os tabus continuam aí, e as pessoas estão muito mais defendidas no amor. E esse texto trabalha com os impulsos arquetípicos da paixão", afirma Possi. "E Borghi faz isso por meio de personagens mitológicos, como Medeia, e assim informa muito rápido ao público o que está em jogo", diz Torloni.

Por que a versão feminina demorou tanto a subir ao palco? "Nem Borghi tinha mais uma cópia", diz Leonardo Franco, o responsável pela "redescoberta" da peça, que depois de muito procurar achou o texto na Biblioteca Nacional. "Atuar na montagem anterior foi um marco em minha vida. E ainda quero, daqui a dez anos, voltar a esse texto, no papel do protagonista", afirma esse ator, fundador do Solar de Botafogo, um espaço teatro que já se firmou no cenário carioca. Coincidentemente, ali fez sucesso Play, montagem inspirada no filme Sexo, Mentiras e Videotape, que deve chegar a São Paulo em janeiro, e da qual Maria Maya é uma das produtoras e também atua. Gente de teatro é alma e carne em A Loba de Ray-Ban.



Preste Atenção...


... na homenagem ao teatro presente antes ainda que a cortina se abra. Ao entrar no teatro, o espectador vai ouvir uma gravação com aquele burburinho característico das plateias antes do início da sessão: conversas de muitas vozes embaralhadas, tosses. Vez por outra, uma frase sobressai. "Todas são de gente de teatro", diz Possi. "Tem Cacilda Becker e Walmor Chagas, Nelson Rodrigues, Raul Cortez..." Paulo Autran e Bibi Ferreira foram as duas vozes reconhecidas pela reportagem do Estado no curto trecho ouvido.

...na forma "diferente" como Christiane Torloni traz para o palco as batidas de Molière, como ficou conhecido o "sinal" para o início da sessão - sete batidas com um cajado sobre o palco -, usado pelo dramaturgo e ator francês antes que a luz elétrica tornasse comum os três toques de campainha.

...na dramaturgia muito bem urdida de Renato Borghi, autor de A Loba de Ray-Ban, a homenagem ao teatro se dá de várias formas. Uma delas é a inserção de nomes de peças, naturalmente, no meio de um diálogo. Fique atento para detectar títulos como Doce Pássaro da Juventude (Tennessee Williams), Essa Noite de Improvisa (Luigi Pirandello. Há outras. É gostosa brincadeira identificá-las.

Aproveite para conhecer melhor o tradicional palco italiano, com a chamada caixa cênica que é parte da cenografia. Termos como camarins e coxias (lateral onde os atores esperam para entrar) estão presentes. Quando
Christiane diz que vai subir para a varanda, ela se refere a uma espécie de andaime de metal que permite aos técnicos manipular os cordames e refletores. Possi "falseia" uma varanda no palco. A verdadeira fica lá no alto.

Há 22 anos


VERSÃO MASCULINA

PROTAGONISTA: Raul Cortez interpreta o dono da companhia, que se vê abandonado pela ex-mulher, a atriz e companheira de 12 anos, e pelo jovem ator por quem está apaixonado.

SEGUNDO PAPEL: Christiane Torloni vive a companheira e parceira artística do grande ator, a quem deixa para atuar na TV.

QUEM CHEGA: Leonardo Franco entrou no elenco já com o espetáculo em temporada para viver o jovem iniciante que se torna amante do grande ator.

PEÇAS DENTRO DA PEÇA: Ricardo III, o personagem histórico corcunda e cruel da criação de Shakespeare, é o papel vivido pelo grande ator em cena. Não por acaso. Evidentemente, o autor fez tal escolha porque o papel traduz tanto o "poder" exercido pelo dono da companhia como a sua sensação de rejeição, faces de uma mesma moeda. Eduardo II era a peça utilizada no "teste" feito pelo jovem ator iniciante.


Fonte : Estado de São Paulo

terça-feira, 22 de junho de 2010

Christiane Torloni reúne Famosos em estreia da peça "A Loba de Ray-Ban"

Christiane Torloni diz que aos 50 anos as mulheres viram "lobas"





Christiane Torloni reuniu famosos durante a estreia do espetáculo “A Loba de Ray-Ban”, nesta sexta-feira (6). A atriz, que participou do elenco de “Caminho das Índias”, esteve no teatro do shopping Frei Caneca, em São Paulo, e subiu ao palco com um visual diferente.



O espetáculo é uma remontagem que já foi realizada com base na peça “Lobo e Ray-Ban”, que tinha como protagonista na época Raul Cortez. “A emoção é muito forte. São Paulo tem uma energia ótima. É um espetáculo de Raul Cortez, então é uma homenagem a ele, a todos os atores, que passaram por todos os palcos em São Paulo”, disse Christiane sobre o autor.
Emocionada, a atriz revelou que sente o ato por perto. “Eu sinto a presença de Raul Cortez o tempo todo. Ele está no teatro, ele é o teatro.”




Após ter dado vida uma homossexual na TV, em “Torre de Babel” (1998), agora, ela interpreta uma bissexual, que vive um triângulo amoroso envolvendo o ex-marido e a atual amante.

Depois desses personagens polêmicos, a estrela contou lida com esses trabalhos.
“Eu acho que são temas que precisam ser tratados com todo carinho, liberdade, inteligência e humor que eles merecem. São temas do nosso tempo, que já foram de outros tempos também. E é legal transitar por esses personagens sem ter pudor.”

A atriz, em conversa com a imprensa, também falou sobre idade e maturidade. “Aos 30 anos, a gente vira mulher e, com 50, a gente vira loba. Então é melhor virar loba do que ficar velha. Dos 30 para os 50 a gente ganha para caramba, definiu.

Enquanto está concentrada com a peça, Christiane disse que irá se afastar um pouco da televisão. “Vou dar um tempo. Agora a “Loba” tem que andar. O publico vem me ver no teatro e, daqui a pouco, vai me ver no cinema. A gente tem que dar um tempo (da televisão)”, concluiu ela que tem morado tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro por conta da agente profissional.

Wolf Maya foi carinhoso e beijou a filha, Maria Maya, que também estreou a peça. Monique Alfradique, que está concentrada nas gravações de "Cinquentinha", Lúcia Veríssimo e Juan Alba apareceram.



“Me surpreendeu a reação do público na pré-estreia do espetáculo, parecia estar num show de rock´n´roll. A expectativa foi alcançada. Estou muito satisfeito com o resultado”,
revelou Possi Neto.O diretor afirmou que há um projeto de a peça ser adaptada para o cinema, mas ainda não há nada concreto. “Estamos com um projeto de a peça virar filme, mas ainda não temos muitos detalhes sobre isso”, contou Possi Neto.



Lúcia Veríssimo e Juan Alba.




FONTE : Te Contei,Quem

Revista Época.

A hora da Loba!


Enquanto você dormia: Christiane Torloni (de preto) e Maria Maya se beijam sobre 0 Leonardo Franco em cena de A Loba de Ray-Ban.




Antes de se tornar um hit teatral na segunda metade dos anos 1980, O Lobo de Ray-Ban quase virou loba. O autor, Renato Borghi, adaptou a peça, mudando o foco para a figura feminina. Ao escrever esta segunda versão, ele tinha em mente Dina Sfat, mas a atriz adoeceu antes dos primeiros ensaios – ela morreria em 1989, vitimada pelo câncer. Nesse meio tempo, Raul Cortez decidiu encenar o texto original. Amor, ódio e um romance homossexual serviam de combustível para o bate-boca entre um ator veterano (Raul Cortez) e sua ex-mulher (Christiane Torloni), também atriz, nos bastidores de uma companhia de teatro. O triângulo se completava com Fernando (Leonardo Franco), o namoradinho de Paulo.

A montagem dirigida por José Possi Neto ficou dois anos em cartaz, rodou o Brasil e valeu a Borghi os prêmios Molière, Mambembe e da Associação Paulista de Críticos de Arte. Agora, A Loba de Ray-Ban finalmente chega aos palcos. É a sétima parceria de José Possi Neto com a diva Christiane Torloni – a primeira, 22 anos atrás, se deu justamente com O Lobo de Ray-Ban. Aos 52 anos, ela se revela em (ótima) forma para vestir a pele da “loba” Júlia Ferraz, versão feminina do personagem que foi de Raul Cortez. No início, a protagonista se encontra sozinha no palco, revendo cenas de seu passado em meio a uma crise pessoal. A chegada do ex-marido (Leonardo Franco, o Fernando da primeira montagem) desencadeia um embate entre os dois, que ganha contornos mais dramáticos quando entra em cena Fernanda (Maria Maya), a jovem namorada de Júlia.

A atriz fala de beleza, da parceria com o diretor José Possi Neto e das dificuldades para se montar uma peça no Brasil.



“Perdi a conta da quantidade de ‘nãos’ que eu recebi”


ÉPOCA SÃO PAULO » Com tantos dramaturgos novos despontando, faz sentido montar uma peça escrita há mais de duas décadas?
CHRISTIANE TORLONI » É um texto de qualidade, hoje ainda mais contemporâneo do que era no passado. Isso porque trata de questões morais. O mundo ficou mais careta de 1987 para cá, por causa do surgimento da aids. Essa geração mais nova tem um lado conservador, que pode ser confrontado com a discussão moral que A Loba de Ray-Ban levanta.

Por que você resolveu trabalhar de novo com José Possi Neto?
Seria impossível montar esse texto com outro diretor. Ele já havia dirigido a primeira versão; estamos fechando um ciclo agora. Ao longo de tantos anos, nossa cumplicidade foi se aprofundando. Não se trata de conforto ou acomodação, até porque é cada vez mais difícil trabalhar com ele – e também mais interessante.

A montagem de A Loba foi anunciada dois anos atrás, mas só agora saiu do papel. A que você atribui esse atraso?
A captação de recursos por meio da Lei Rouanet acabou atrasando. E uma parte do dinheiro só surgiu na virada do ano, quando eu estava acabando Beleza Pura [novela de Andrea Maltarolli, exibida em 2008]. Aí pintou o convite da Glória [Perez] para eu fazer Caminho das Índias. Irrecusável, né? No fim das contas acabou sendo bom porque tivemos mais tempo para conseguir patrocínio.

Sua popularidade como atriz da Rede Globo não facilita a captação de recursos para uma peça?
Mesmo com alguém famoso à frente, o produto precisa se adaptar a quem vai comprá-lo. É uma quimera. Em um ano e meio de captação, perdi a conta da quantidade de “nãos” que eu recebi. E olha que a gente ainda não conseguiu dinheiro para garantir uma temporada no Rio de Janeiro nem uma turnê pelo país. Há 12 anos, quando fiz Salomé [texto de Oscar Wilde, também sob a direção de José Possi Neto], o Banco Real bancou todo o projeto. Ficamos um ano em cartaz e ainda viajamos. Infelizmente, a realidade do país mudou muito. Atualmente nós não temos patrocínio nem para as passagens aéreas. É preciso ter muita fé para continuar fazendo teatro no Brasil.

Qual é a sensação de ser considerada um símbolo de beleza aos 52 anos?
Tive a sorte de haver sido criada com disciplina e muito esporte. Meus pais [os atores Geraldo Matheus e Monah Delacy] acreditavam que o exercício físico ajudava a equilibrar a saúde mental. Talvez eles preferissem que eu fosse uma atleta em vez de atriz... Até hoje sinto prazer em fazer exercícios. É algo lúdico para mim. Quando não estou ensaiando alguma peça, pratico power yoga e spinning – adoro pedalar.


Fonte: Época São Paulo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mais Matérias da Coletiva "A Loba de Ray-Ban".

Matéria do MSN sobre a Coletiva de Impressa "A Loba de Ray-Ban"

"Ela [Maria Maya] dá o peitinho, ele dá a bundinha [Leonardo Franco] e eu dou a linguinha. Cada um dá o que pode." ,brinca Christiane Torlon.




Christiane Torloni protagoniza "A Loba de -Ray-Ban", que entra em cartaz no dia 7 de novembro, no Teatro Shopping Frei Caneca, em São Paulo. A peça é uma nova versão do espetáculo "O Lobo de Ray-Ban", protagonizado por Raul Cortez e co-estrelado também por Christiane e Leonardo Franco, em 1987. O texto foi escrito por Renato Borghi que, ao mesmo tempo, já criava uma versão feminina a pedidos de Dina Sfat.


O foco é a vida de três atores de uma Companhia de Teatro. Dois deles formam um ex-casal, e o outro é o amante. Na versão masculina, Raul vivia o "lobo", um homem dividido entre o amor da ex-mulher e a paixão por outro homem. No lugar antes ocupado por Raul, está agora Christiane Torloni , que atua como Julia Ferraz, a atriz-empresária. Leonardo Franco dos momentos em que passou ao lado de Raul, e das frases ditas por ele. Durante coletiva de imprensa da peça, realizada esta semana em Sâo Paulo, os olhos da atriz se encheram de lágrimas e sua voz ficou trêmula. Naquele momento, ela deixou o coração falar mais alto. "Eu me emocionei muito ao decorar o texto. Eu ouço o Raul falando como se estivesse sussurrando no meu ouvido. Para mim, isso está sendo um grande desafio. As nossas vozes continuam aqui. Também me ouço como o personagem de Leonardo Franco", declarou. O grande personagem da dramaturgia brasileira morreu no dia 28 de julho de 2006 e deixou enormes saudades aos amigos e ao público.
Mais de duas décadas depois, a atriz se vê muito mais madura e evoluída, chegou a se definir como outra mulher, e deixou claro que se tornou loba, na arte e na vida.
"A Julia de 22 anos atrás foi uma passagem de nível. Tem que se ter muita coragem para entrar nessa caverna, avançar. O texto veio para me dizer 'Olha, você já chegou nesse lugar. Você é loba, seja loba'", opinou.


Sexualidade


"Ela [Maria Maya] dá o peitinho, ele dá a bundinha [Leonardo Franco] e eu dou a linguinha. Cada um dá o que pode." Foi assim, com muito bom humor, que Christiane Torloni finalizou suas declarações sobre o que o público pode aguardar do espetáculo, mergulhado em sexualidade e desejo.

Antes mesmo de viverem mãe e filha na trama global "Caminho das Índias",
Christiane e Maria já sabiam que ia ficar, literalmente, cara-a-cara em "A Loba de Ray-Ban". O que foi uma grande coincidência. Mas para elas, a convivência na trama foi ainda melhor. "A primeira pessoa para quem eu liguei quando soube do papel [em "Caminho] foi para a Chris. Falei: ''Chris, vou ser sua filha", brincou Maria, que logo foi interrompida por Christiane: "Levei um susto!".

Na pele das duas, o tema abordado é o bissexualismo. Mas o diretor José Posi Neto explica que a peça defende a honestidade, não a opção sexual. "O assunto principal da peça não é o homossexualismo. Este é apenas um dos temas. Mas como é ainda um tabu em pleno século XXI, ele acaba aparecendo na frente. O grande assunto da peça é o relacionamento amoroso, o papel da traição, da paixão e do ciúme. Por isto esta peça é universal, nunca fica datada. Paralelo a isto, existe uma grande paixão que os une: o teatro", declarou

Fonte: MSN.

Perguntas a Loba Christiane Torloni.

Christiane Torloni responde 3 perguntas a Veja São Paulo.


Sob a direção de José Possi Neto, a atriz Christiane Torloni, de 52 anos, estreia no Teatro Shopping Frei Caneca a peça A Loba de Ray-Ban. Trata-se de uma versão feminina do drama O Lobo de Ray-Ban, que ela protagonizou nos anos 80 ao lado de Raul Cortez.

Qual a diferença entre as duas versões do texto escritas por Renato Borghi?
Os personagens mudam de sexo, mas os conflitos são os mesmos. Vivo as mesmas situações do papel de Raul Cortez, o meu ex-marido na montagem de 1987. Existia uma lenda em torno da versão feminina desse texto. O Borghi escreveu para a Dina Sfat (1938-1989), que adoeceu e não pôde fazer. Dois anos atrás, o ator Leonardo Franco, que interpretava o amante do personagem de Raul na época, me disse que guardava a peça havia dezessete anos. Eu tinha outro projeto com o Possi e parei. Quis fazer na hora.


Mas a homossexualidade ainda pode ser tão polêmica quanto há vinte anos?
Em O Lobo de Ray-Ban, muitos se constrangiam ao ver no palco o romance de dois homens. A homossexualidade feminina é vista de forma mais condescendente e até excitante. Talvez seja uma questão cultural. Todos têm curiosidade sobre o que acontece entre mulheres, mesmo que elas não façam nada de mais. Acho que as esposas nem vão precisar insistir muito para levar o marido a essa peça (risos).


Ter o nome associado à sensualidade costuma ser um empecilho para alguns atores. Você nunca pensou em fazer um papel de mulher feia, decadente?
Sempre trabalhei muito, e os personagens chegaram a mim. Aos poucos, tirei o rótulo de mulher bonita, gostosa e mais ou menos talentosa. Essa peça será um novo divisor de águas. Em O Lobo de Ray-Ban, eu tinha 30 anos, estava me tornando uma mulher e me consagrei. Agora, atravesso outro portal: o da mulher para a mulher madura, e isso é forte. Virei uma loba.

Fonte: Veja São Paulo

Ainda em tempo...

Mais duas reportagens sobre a Coletiva de Imprensa de "A Loba de Ray-Ban"


Christiane Torloni conta que escuta a voz de Raul Cortez (1932 - 2006) ao ensaiar o texto de Renato Borghi, "A loba de Ray-Ban". Isto porque a atriz de 52 anos estava no elenco da primeira montagem da obra em 1987, interpretando a mulher do personagem de Raul, o então lobo da história. Passados 22 anos, personagens e gêneros se invertem. Torloni vive Julia Ferraz, correspondente feminina do protagonista. A peça, dirigida por José Possi Neto, o mesmo diretor da célebre montagem da década de 80, entra em cartaz no Teatro Frei Caneca em São Paulo a partir de 7 de novembro.

"- Comecei a me emocionar ao decorar o texto. Ouço Raul falando como se estivesse sussurrando no meu ouvido. Foi um grande desafio, pois as vozes do passado continuam em cena. Também me ouço como o personagem de Leonardo Franco" [que na montagem atual interpreta o personagem masculino que corresponde ao que foi de Torloni em 1987] - contou a atriz.

A estrutura da peça é a mesma, mas o triângulo amoroso que surge nos bastidores do teatro passa a ser entre um homem e duas mulheres. Antes, o triângulo formava-se quando o personagem de Raul Cortez, um empresário e ator de teatro, se apaixonava por um jovem ator, interpretado no passado por Leonardo Franco na temporada carioca da peça, enquanto vivia um casamento com a personagem de Christiane Torloni.

A versão feminina do texto foi escrita por Borghi ao mesmo tempo em que ele criava a versão masculina, a pedidos da atriz Dina Sfat. Infelizmente, Dina adoeceu antes que pudesse encenar o texto, empreitada assumida agora por Torloni.

O novo triâgulo amoroso forma-se quando Julia Ferraz (Christiane Torloni) apaixona-se por uma jovem atriz (Maria Maya). Julia é casada com o personagem de Leonardo Franco. Todos os envolvidos são atores.

"- O assunto principal da peça não é o homossexualismo. Este é apenas um dos temas. Mas como é ainda um tabu em pleno século XXI, ele acaba aparecendo na frente. O grande assunto da peça é o relacionamento amoroso, o papel da traição, da paixão e do ciúme. Por isto esta peça é universal, nunca fica datada. Os personagens discutem o tempo inteiro a honestidade de suas relações. Paralelo a isto, existe uma grande paixão que os une: o teatro. Estas relações são governadas pela paixão que eles têm pelo teatro. A peça defende a honestidade, não o homossexualismo"- explica José Possi Neto.

"-O preconceito e o medo vão destruir a relação da grande atriz e empresária com a jovem aspirante aos palcos. Também ganha ênfase a relação de ciúmes e competição em um casamento. São elementos que ajudam o público a se identificar com os personagens", acredita Possi.

"- Mas sei também que há um enorme interesse em ver um barraco em cena" - completa o diretor, referindo-se ao momento no qual a atriz principal interrompe o espetáculo e assume o clímax de sua crise existencial e afetiva diante do público.

O encenador afirma que não está fazendo uma remontagem de seu espetáculo de 1987.

- É uma nova abordagem. Sinto como se estivesse dirigindo um clássico.


Christiane Torloni define sua personagem como alguém que "transita com liberdade pelo desejo e pela paixão".

"- As pessoas às vezes aparentam uma sexualidade que não têm. A peça trata de liberdade sexual" - diz a atriz, lembrando do casal de lésbicas (interpretado por ela e Sílvia Pfeiffer) que enfrentou a rejeição do público na novela "Torre de Babel" e acabou saindo trama com uma morte trágica.

Interpretar primeiro a personagem mais jovem da peça e, agora, assumir o posto da loba, é motivo de orgulho para Christiane Torloni.

"- Hoje você pode escalar um elenco de 7 a 87 anos. Estou caminhando dentro da nossa cronologia teatral. Isso me dá um orgulho enorme. É uma glória continuar e a loba é um prêmio" - diz Torloni, acrescentando que a nova montagem é uma oportunidade para o público se reencontrar com um clássico da dramaturgia brasileira.

Mas a atriz faz um pedido ao público: que não tomem Rivotril antes de vir ao teatro, para que seja possível se emocionar.

"- O povo está tomando Rivotril como se fosse floral. As pessoas estão se anestesiando. Por favor, não se anestesiem antes de vir ao teatro. Ninguém mais quer chorar, se emocionar. Vivemos um momento estranho, com essa modalidade do "eu me anestesio no café da manhã para poder viver". O ópio do povo virou o Rivotril, os remédios de tarja preta" - conclui.

Fonte: O Globo

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Christiane Torloni vai interpretar uma mulher bissexual na peça A Loba de Ray-Ban, que estreia em São Paulo, no teatro Frei Caneca, no próximo dia 7 de novembro.

Ao falar sobre a peça, ela fez questão de lembrar de sua personagem na novela Torre de Babel (Globo), que morreu na explosão de um shopping, por ser homossexual.

"- Já tive de morrer na TV por fazer uma personagem homossexual. Nos anos 90, eu fiz um casal com Silvia Pfeifer, em Torre de Babel. Era o casal mais tranquilo da novela. O mais bem sucedido. Mesmo assim, elas tiveram de morrer daquela forma horrorosa, em uma explosão dentro de um shopping, por conta do preconceito."

Para Torloni, sua personagem no teatro, que se envolve com uma atriz mais jovem, interpretada por Maria Maya, abre caminhos.

"- Ainda existe o tabu contra a homossexualidade. Então, uma das bandeiras dessa peça é a favor da sexualidade. As personagens dialogam sua liberdade. Não é que elas sejam homossexuais. Elas são sexuais. Vivem pelo desejo e pela paixão."

A atriz afirmou que muita gente “aparenta uma sexualidade que não tem”. "- Tem cara que você olha e fala: esse é bofe. E não é não! [risos]. A peça não defende a homossexualidade. Ela defende a honestidade."

Christiane e Maria, que fizeram mãe e filha na novela Caminho das Índias (Globo), contaram que a proximidade na trama de Gloria Perez ajudou na peça dirigida por José Possi Neto. Maria lembra: "- Quando me disseram que seria filha dela, pensei que fosse pegadinha, porque ela já havia me convidado para a peça."

Torloni já viveu o papel que hoje é de Maria em 1987, na primeira montagem do texto de Renato Borghi. Ela, que afirmou “cuidar muito bem” de seu corpo, aproveita os 22 anos que separam as duas encenações para filosofar: "- Acho que estou crescendo. Tenho muito orgulho da minha trajetória. Poder continuar nessa profissão para mim é a glória. Um dia, quem sabe, não vou fazer a vovó da Loba? Ou a vovozinha do lobo mau? [risos]"

Fonte: Primeira Edição

Sinopse da peça "A Loba de Ray-Ban"

E mais, fotos do espetáculo que conta com Christiane Toloni, Leonardo Franco e Maria Maya

  • SINOPSE
Esta é a história de um triângulo amoroso que vive situações convencionais e de bissexualidade. Os personagens envolvidos são atores, fazem do teatro sua profissão e seu sacerdócio. São seres apaixonados e apaixonantes, são capazes de assumir a persona de verdadeiros monstros sagrados e resvalar o mais baixo do melodrama humano. São objeto de curiosidade de todo tipo de voyerismo, portanto irresistíveis.

Numa noite, um espetáculo de teatro é interrompido pela atriz principal, que assume o clímax de sua crise existencial e afetiva diante do público. Escândalo. Revela-se o triângulo amoroso vivido por ela, envolvendo o ex-marido e sua atual amante, ambos atores da sua Companhia Teatral. Vamos assistir a uma brilhante discussão sobre moral e relacionamento amoroso. Vamos participar do cotidiano dos camarins e coxias de um teatro. Vamos testemunhar um desafio de interpretação, vividos por Christiane Torloni como Julia Ferraz, a atriz-empresária, e por Leonardo Franco e Maria Maya, o ex-marido e a amante.

  • FOTOS
Fotos: Luiz Tripolli

Fonte: CANAL TEATRO

Coletiva de impressa de " A Loba de Ray-Ban.

Elenco na Coletiva de impressa de " A Loba de Ray-Ban.

A atriz
Christiane Torloni se emocionou ao falar de Raul Cortez (morto em julho de 2006), em encontro com a imprensa nessa quinta-feira (29), em São Paulo. A atriz interpreta o papel de protagonista da peça A Loba de Ray-Ban, uma versão feminina do personagem que foi de Cortez na primeira montagem do espetáculo em 1987. "A música do texto é a voz do Raul. Eu decorei as falas da minha personagem, mas ouço o Raul falando e isso é algo muito forte pra mim", disse ela, com lágrimas nos olhos.

Maria Maya,Christiane Torloni,Leonardo Franco e José Possi Neto.

A trama fala do triângulo amoroso entre Julia, personagem de Christiane, Paulo (Leonardo Franco) e Fernanda (Maria Maya), que é amante de Julia, e a atriz falou sobre a homossexualidade, que é um dos temas da peça. "Ainda existe um grande tabu, mas a Julia tem um sentido de liberdade. Ela transita pela liberdade, pelo desejo, pela paixão" , definiu ela.

Maria disse que sua personagem no espetáculo, Fernanda, enfrenta conflitos morais e por isso abandona seu amor, Júlia. "Essa questão é muito presente na minha geração - a virtual, do Twitter e do Facebook -, que está tão presa ao individualismo que acaba abandonando o amor. Eu também uso essas redes de relacionamento, mas trata-se de uma prisão", criticou.

Segundo ela, quando Christiane Torloni a chamou para um teste, ela agarrou o papel com todas as forças. "Eu quis trazer essa realidade para a ficção", contou. "Ainda não tenho resposta para a questão, mas espero encontrar pelo menos um conforto no teatro" .

Aos 28 anos, Maria acredita que A Loba de Ray-Ban será um divisor de águas na sua carreira. "Só agora estou conseguindo fincar a minha história na profissão que escolhi e amo. Fico feliz em poder juntar no palco a minha maturidade profissional com a pessoal" .

Maria Maya e Christiane Torloni.

Maria Maya volta a contracenar com Christiane Torloni após interpretar sua filha problemática - e rejeitada - em Caminho das Índias, da Globo. Nos palcos, a atriz vive a amante da personagem de Christiane. "Foi um conjunto de acontecimentos e coincidências quase mágicos Eu fiz o teste para a peça antes da novela e, no início, eu tinha outro papel na trama. Soube três dias antes de começar a gravar que seria filha da Chris" , contou.
Para Christiane, a novela foi um teste para as duas atrizes. "Se a gente não tivesse sentido química, seria uma chance para afinar ou para dizer tchau" , ressaltou.

Para Christiane, os espetáculos de 1987 e o de hoje marcaram uma "passagem de nível" . "Há 22 anos, eu estava chegando aos 30, uma fase maravilhosa, em que a mulher se distancia dos seus conceitos da adolescência. Agora vivo outra passagem. Cheguei à maturidade. O texto tem o mesmo emblema para mim como teve há 22 anos. Hoje ele diz: 'você é uma loba, então seja uma'" , explicou.

A atriz enfatizou que nos dois anos em que levantou recursos para montar a peça ela passou por um processo de crescimento. "Eu entrei num concurso de dança (o Dança dos Famosos, do Domingão do Faustão), algo que nunca pensei que faria e muito menos que pudesse ganhar, reuni assinaturas para um projeto ambiental (o Amazônia para Sempre), fiz uma novela das 20h (Caminho das Índias) e um filme (Chico Xavier). Esses projetos me fizeram alcançar a maturidade também nos palcos" , disse.

A Loba Ray-Ban, que tem a direção de José Possi Neto, estréia no próximo sábado (7), em São Paulo, no teatro Frei Caneca.

Fonte: EGO,O DIA,TERRA,O FUXICO.

Mais uma foto: "A Loba de Ray-Ban"

Mais uma foto de divulgação da peça "A Loba de Ray-Ban

Luiz Tripolli

Fonte: CANAL TEATRO

"A Loba de Ray-Ban " Shopping Frei Caneca


Numa noite, um espetáculo de teatro é interrompido pela atriz principal, que assume o clímax de sua crise existencial e afetiva diante do público. Revela-se o triângulo amoroso vivido por ela, envolvendo o ex-marido e sua atual amante, ambos atores da sua Companhia Teatral. Vamos assistir a uma brilhante discussão sobre moral e relacionamento amoroso. Vamos participar do cotidiano dos camarins e coxias de um teatro. Vamos testemunhar um desafio de interpretação, vividos por Christiane Torloni como Julia Ferraz, a atriz-empresária, e por Leonardo Franco e Maria Maya, o ex-marido e a amante.

Nesta versão, passados 22 anos, os papéis se invertem. Christiane Torloni passa a fazer o papel que era de Raul Cortez. Leonardo Franco o que era de Christiane e o papel do jovem ator, representado por Leonardo, agora será feito pela jovem atriz Maria Maya. Possi dirige esse trio na nova e desafiante "A Loba de Ray-ban".
“Versamos sobre o mesmo tema, A PAIXÃO, na vida e na profissão. Expomos cruamente um triângulo amoroso, mas a emoção que permeia este trabalho tem outro tônus comparado àquele que se instaurou na encenação de 87. Lidamos agora com outro triângulo de atores, portanto outra química se estabelece. Resultado previsto? Novas emoções, nova estética”,afirma o diretor José Possi Neto.

FICHA TÉCNICA

Texto: RENATO BORGHI
Direção: JOSÉ POSSI NETO

Elenco: CHRISTIANE TORLONI, LEONARDO FRANCO E MARIA MAYA

Cenário: JEAN-PIERRE TORTIL
Figurino e Visagismo: FABIO NAMATAME
Iluminação: JOSÉ POSSI NETO
Trilha Sonora: TUNICA e ALINE MEYER
Preparação Corporal: SUZANA MAFRA
Programação Visual e Curadoria: DENISE MATTAR
Fotos: LUIZ TRIPOLLI
Direção de produção: JOSÉ LUIZ COUTINHO e ELZA COSTA
Produção Executiva: WAGNER PACHECO
Realização: CHRISTIANE TORLONI e LEONARDO FRANCO

Duração: 90 minutos

Recomendação: 14 anos

Temporada: até 20 de dezembro

Guia do Teatro do mês de Novembro.


Christiane Torloni em pele de Loba.



Fonte:Teatro Frei Caneca.
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