quinta-feira, 24 de junho de 2010

A hora e a vez da Loba.

Christiane Torloni revive papel que foi de Raul Cortez ao lado de Leonardo Franco e Maria Maya.



Em entrevista coletiva, Christiane Torloni, Leonardo Franco e José Possi Neto falam da peça “A Loba de Ray Ban”, versão feminina do texto de Renato Borghi montado em 1987 (veja fotos), com Raul Cortez no papel principal - e que trazia a própria Christiane no elenco, além do ator Leonardo Franco na temporada carioca. Na nova montagem, a atriz Maria Maya completa o time de atores. Confira alguns trechos:

Como é retomar a peça 22 anos depois?
Christiane Torloni: A sensação que tenho é que a Julia cresceu. Este novo papel poderia ser o desenvolvimento daquela mulher que, há duas décadas, tinha trinta anos e era casada com um grande ator. Agora ela é uma mulher de cinqüenta, se tornou uma loba e hoje a vida dela é assim. Não é uma inversão de papéis e sim uma evolução. E nós temos uma trajetória importante que começa com “O Lobo de Ray Ban”, dirigido por Possi. A história da peça no ponto de vista da dramaturgia é incrível. “A Loba” nasce, segundo o autor Renato Borghi, na leitura de “O Lobo” para alguns amigos, entre eles Dinah Sfat - que se reconhece nesse personagem e diz que quer fazer. Borghi então cria uma versão feminina do texto, mas infelizmente Dinah não pode agarrá-la antes de Raul Cortez. Na mesma forma que Léo me mostrou há dois anos, quando agarrei o projeto. É uma história tão universal que parece natural o que está acontecendo.

Conte da trajetória da produção atual até chegar ao palco.
Leonardo Franco:
Eu tinha 23 para 24 anos, quando me deparei com Possi, Cortez e Renato Borghi. Era estudante de psicologia e ensaiava ser ator na própria faculdade. Para minha sorte, minha primeira produção foi “O Lobo”. Fui apresentado ao teatro que dá certo por Cortez e Possi e isso marcou profundamente minha vida, determinou uma série de escolhas e a trajetória que quis seguir. Viajar na sua peça de estréia com pessoas deste gabarito faz com que o ator entenda o caminho que quer traçar. Entrei no segundo elenco, com Patrícia Pillar substituindo a Christiane, fizemos um grande percurso pelo Brasil. Quando a peça acabou, eu tinha ficado cerca de 11 meses em cartaz e senti que precisava mais tempo com “O Lobo”. Logo em seguida, soube da versão feminina e fui atrás de Borghi. Ele não tinha mais o original do texto, que encontrei em uma biblioteca no Rio de Janeiro. Guardei por 17 anos com a intenção de reviver aqueles momentos esplendorosos do inicio da minha carreira. A idéia era inaugurar o Centro Cultural Solar de Botafogo, no ano passado, mas não conseguimos viabilizar. Estreamos com “Campo de Provas”, de Aimar Labaki, que para minha felicidade era dirigida por Ignácio Coqueiro, marido de Christiane. Por conta disso, eles foram à estréia da peça e Christiane soube que eu estava com o texto da “A Loba” e me procurou. Para mim, fazer esta montagem com Possi e Christiane é um retorno. O meu projeto é viver os três papéis: fui o jovem ator há 22 anos, agora sou marido e daqui a dez anos já tenho um compromisso com Borghi para viver o Lobo. Raramente isso acontece na vida de um ator.

A peça trata do homossexualismo?
José Possi Neto: O assunto principal da peça não é o homossexualismo. Este é apenas um dos temas. Mas como é ainda um tabu, ele acaba aparecendo na frente. O grande assunto é o relacionamento amoroso, o papel da traição, da paixão e do ciúme. Por isto esta peça é universal, nunca fica datada. Um clássico. A relação de ciúmes e a relação de casal estão presentes, por isso as pessoas se encontram ali. A paixão, o amor e o abandono, a dor da separação - todo mundo se projeta nisso. Paralelo a isto, o que governa essas relações é uma paixão por uma causa maior: o teatro. Por causa do preconceito, a personagem de Maria se separa de Júlia. Mas o que mais magoa a “loba” não é a separação amorosa, mas o fato que ela está perdendo seus parceiros artísticos. A peça defende a honestidade, não o homossexualismo.


Como o passado e o presente se encontraram no processo de ensaio?
Christiane: O processo foi peculiar. Como tínhamos pouco tempo de ensaio, Possi pediu para que decorássemos o texto antes de nos reunirmos, o que não é muito normal na cronologia de uma montagem. E quando sozinha começava a ler, a música do texto era a música do Raul. De coração, eu sei o texto da Julia e ouvia o Raul falando, eu me emocionava muito neste processo e em algumas leituras. Era como se ele sussurrasse as falas em meu ouvido. Agora eu estou começando a vivenciar a personagem. É parecido com um jogral, com vozes do passado que continuam em cena. Essa presença do Raul falando é muito forte. A Julia foi um upgrade para mim. Na primeira montagem estava com 30 anos, uma idade marcante para a mulher. Agora, eu e ela temos outra passagem de nível que é para uma maturidade, que preciso ter para entrar nessa caverna, nessa aventura. E tenho o Raul muito presente vivenciando essa mudança interna. O texto veio para me dizer que já cheguei a algum lugar. Agora me diz: “você é uma loba, seja loba!”


Fonte: Página de teatro.

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