segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Christiane Torloni na pele de loba

Atriz apresenta "A Loba de Ray-Ban" no próximo fim de semana em Belo Horizonte

Nos anos 80, Dina Sfat (1938-1989) encomendou um texto a Renato Borghi. A atriz adoeceu e Borghi reescreveu a peça para ser protagonizada por um homem. Christiane Torloni participou da montagem, que estreou em 1987 tendo Raul Cortez (1932- 2006) como protagonista. Mais de duas décadas depois, Torloni topou remontar o texto original, agora intitulado "A Loba de Ray-Ban", que ela apresenta dias 4 (sábado, às 21h) e 5 (domingo, às 20h), no Palácio das Artes, com ingressos a partir de R$ 40 (inteira).
A estrutura da peça é a mesma da primeira versão, mas o triângulo amoroso que surge nos bastidores do teatro passa a ser entre um homem e duas mulheres. O novo triângulo amoroso forma-se quando Julia Ferraz (Torloni) apaixona-se por uma jovem atriz (Maria Maya). Julia é casada com o personagem de Leonardo Franco (papel que foi de Torloni em 1987).
Para Torloni, a homossexualidade, um dos temas presentes na "Loba" - juntamente com traição, ciúme e paixão -, provoca mais resistência do que dos anos 80. Principalmente a masculina. "Infelizmente, o mundo encaretou muito nos últimos 23 anos. O advento da aids foi um acidente de percurso do ponto de vista da evolução. O preconceito aumentou. Houve um retrocesso moral do tamanho do bonde. Mas vejo que há uma certa condescendência histórica da sociedade em relação à homossexualidade feminina. Basta você olhar os canais adultos. Normalmente o que se vê é um triângulo entre duas mulheres e um homem. É mais palatável. O homem se excita ao ver duas mulheres. Ele só que não quer que seja a mulher dele. Mas dois homens você só vê nos canais masculinos. Na primeira versão, em que o triângulo eram dois homens e uma mulher, as pessoas se levantavam e saiam do teatro".
A atriz delimita outras diferenças entre as duas montagens. "Mudaram várias coisas. Uma delas é que na primeira versão eu fazia o papel da esposa, e agora sou a própria Loba. Mas a grande mudança é a questão do gênero. Os homens têm uma maneira de lidar com sua própria perda, abandono, traição. O homem ri de si próprio. A mulher é hemorrágica. Não é que sofra menos, mas sofre diferente", compara a atriz.
Em entrevistas, Torloni revelou ter escutado a voz de Cortez durante os ensaios. "As pessoas entenderam essa declaração como se fosse uma coisa espírita (risos). Mas não é isso. É que a presença do Raul é muito forte. Tem uma foto dele em cena e é a ele que nós dedicamos esse espetáculo. Tem um poeta que diz: as pessoas não morrem, ficam encantadas".


"NÃO TOMEM RIVOTRIL"
Christiane Torloni faz um pedido especial ao público: "Não tomem rivotril para ir ao espetáculo. A ideia é que o público se emocione, chore, ria, reaja. As pessoas estão tomando rivotril como se fosse floral. Tem gente tomando rivotril como relaxante muscular. Juro por Deus! Acho que é algo para ser usado por quem tem uma crise depressiva verdadeira".
E completa: "O que seria da vida se não fossem as tensões? Hoje em dia ninguém se permite ficar triste. Ou se está alegre demais. Ou triste demais. É tudo bipolar. Quando você toma bola, você se encampa para a vida. É como se você pusesse uma camisinha em você. É preciso deixar a vida entrar. Nós somos permeáveis à vida. Os grandes autores, compositores e escritores não teriam produzido se tomassem bola em grande quantidade. Como você pode ser criativo se está anestesiado?"

ESPIRITUALIDADE
Christiane Torloni esteve presente este ano nos cinemas em "Chico Xavier", filme baseado na biografia do médium mineiro. "Assisti ‘Chico Xavier’ duas vezes. Fiquei emocionada ao ver 600 pessoas rezando juntas o Pai-Nosso. Nunca tinha visto isso numa sala de cinema. Isso gera um bem enorme, num tempo em que as pessoas estão tão brutais umas como as outras. Esse filme tem o mérito de distribuir o bem, o amor, acalmar e consolar. As pessoas têm a tendência de achar que aquela dor só elas estão sentindo. É bom quando você sabe que não é o único que perdeu e sofreu. A humanidade é toda feita de pessoas que perderam e sofreram".

Fonte: Jornal Pampulha

Um comentário:

  1. Muito bom o blog. Super interessante. Parabéns! valeu mesmo!
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